terça-feira, 3 de dezembro de 2013

A HISTÓRIA DE UM ICONE


Na década de 1970 em meio à ditadura militar meu pai foi vereador por duas vezes em Campo do Brito e, acabou sendo cassado no segundo mandato. Sabe por quê? Nunca se corrompeu nunca se deixou vender por qualquer motivo e sempre defendeu o mandato com altivez. Passaram-se os anos e pensei que entraria na política. Estava no meu sangue os conflitos que quando garoto presenciava meu pai vivendo. Foi jurado de morte e, em uma das vezes eu estava próximo a ele na frente da Prefeitura Municipal que continua no mesmo lugar e endereço.

É só comprovar indo a Campo do Brito.
Depois de garoto e agora adulto vejo que a trajetória democrática ainda é insossa na sociedade sergipana e porque não dizer brasileira. Temos um apanágio de democracia que não se plenifica por dois motivos: ausência de ética no trato com a coisa pública e uma cultura maciça de submissão que o nosso povo – sobretudo os mais pobres – permite-se adentrar criando rasgos de corrupção e maldade “política”.


Pois bem, hoje 02 de dezembro Sergipe perdeu um “Icone” ou se quisermos, despede-se de um cara, um exímio orador, um republicano que soube honrar os mandatos que o povo lhe confiou. Perdemos hoje Marcelo Déda, “Icone”, da ética e da capacidade insuperável de discursar. De antepor-se aos fatos. Não me cabe aqui enaltecer obras e devaneios políticos, até mesmo porque há muitos e muitas que aproveitaram-se da história de Déda e do PT em Sergipe para pegar carona. Triste história que terá que conviver com um enorme vazio.
O “Icone” simboliza e representa muito mais do que a sua tela pintada esboça. Ele convida e impulsiona seu admirador para ver longe, flutuar, para admirar e colocar-se ao seu lado dando a impressão que, pela sua história e dentro da mesma, todos somos parte da sua beleza. Basta ver e encantar-se com o ícone de Rublev – quadro da SSma Trindade – ou de ícones sobre o Cristo, pintado nas igrejas orientais. Beleza, encanto, história, ternura que instiga a reflexão. Cada palavra de Déda e cada discurso, até os de improviso era recheado de logicidade e competência.


Amigos (as) companheiros nesses últimos 20 anos de que pude me aproximar como Zezito, Narcizo Machado, Hugo Sidney, Irene, Paulo (grupo das CEBs: Irenir (Bel), Nadjane, Josimar, Luis Bispo), o Souza que acompanhei no percurso vocacional e tantos outros ainda refletem a capacidade de uma geração que debatia (e debate) e sabia que em Sergipe com todas as suas artimanhas e barreiras, era possível sonhar com o novo. Agora perdemos um ícone do novo e fechamos um ciclo afirmando: Déda não pegou carona na história republicana do Brasil, antes e depois da era Lula. Déda fez história, construiu propostas e deixa seu legado para as futuras gerações. Jesus disse e eu creio: “Eu Sou a Ressurreição e a Vida”. Descanse em paz, Marcelo Déda Chagas.

 

José Soares de Jesus

Mestre em Ciências da Religião

UNICAP - PE