O
caminho traçado por Jesus conquista e interpela o coração e a vida dos
discípulos-missionários[1]
(Mc 1,16-17, 3º Dom Comum). São fortes os apelos que Ele faz e denota certo
“incômodo” não muito citado em nossos cultos midiáticos de hoje. A proclamação
da Palavra muitas vezes dá-se de modo distante e que pouco incomoda. Denota que
não é conosco. O convite é para os outros e, eles que se incomodem. Nossa
perspectiva – digo clero e leigos de vanguarda – é de quem olha ao fundo e não
se deixa questionar. Parece que nos esquecemos da “morbidez religiosa” que na
atualidade marca a vida social como um todo bem como o fato de que as
instituições passam por uma crise voraz.
Quando
abordamos no artigo passado a espiritualidade do caminho
tencionamos abrir diálogo com Marcos que nos acompanhará todo esse ano
litúrgico. E, mais, deixar de lado certas hermenêuticas rígidas que pouco ajuda
na desconstrução e reconstrução da vida cristã. Parece-nos que há um vigente toque
midiático na apresentação dos evangelhos como se Jesus fosse de “plástico”.
Marcos, ao contrário, é muito contundente quando parece abreviar seu texto – só
com dezesseis capítulos. Não lhe apraz um Jesus “folgado” que ele parece ter escrito
por volta dos anos 67-70, e abre assim o segundo testamento[2].
Esse caráter de força dá maior visibilidade ao projeto de Jesus e deixa
perplexos os interessados pela espiritualidade do caminho. Não
premia superficialidade e ignora “dogmatismos” inconsequentes e desumanizantes
(Mc 1,16.18). Chama e desinstala. Nada de perder tempo com assuntos de pouca
relevância. Ele nos coloca diante dos desafios propostos por Jesus: “Depois que
João Batista foi preso” (Mc 1,14). Não existe privilégio – vida light – para Marcos.
Na
verdade, observamos que Jesus propõe um caminho diferente e inusitado que
incomoda duas vertentes atuais: o estado de vida “light” e a exposição
midiática do evangelho entre católicos e evangélicos. Esse é um traço
que passaremos a comentar agora. Porque vejamos, se a referência deve ser o DAp[3]
com suas exigências, não cabe a moleza espiritual e a troca de valores que
muitos religiosos[4]
e leigos fazem hoje. Esse modo de englobar na missão a todos e a todas, denota
de nossa parte a consciência de que como agentes de pastoral, todos – clero,
consagrados e consagradas, batizados em geral – prestamos um desserviço ao
Reino quando trocamos de modo light o evangelho pelas facilidades atuais da
pregação. Essa história de que Jesus é nada, nada, nada, é puro relativismo –
ao nosso modo de ver. Essa leveza desorientada casa com a exposição de mercado
como aconteceu no final de semana – no dia 24 e 25/1 shows gospel e católico
com requinte de alegria e música – com grupos religiosos dando a impressão de
opor-se e/ou apresentar alternativa ao Fest-Verão. Há princípio nada contra
mais não insere reflexão e compromisso no seguimento Dele, o Jesus do caminho. Sua
perspectiva sempre foi outra bem mais contundente e sem troca de “igreja” ou
fundamentalismos.
O
caminho de Jesus deve colocar – e sei que há muitos preocupados – na agenda de
leigos e presbíteros as questões mais desafiantes do momento. Há nosso ver está
difícil evangelizar com métodos do passado. O destaque na missão deve ser dado
continuamente aos mais empobrecidos. E mais, deve-se
acentuar a consciência de que grupos de professores (as), empresários, médicos
(as), políticos – esses nem se fala – e até mesmo os jovens, além de outros,
estão distantes de nossas igrejas e parece que atingi-los é uma tarefa
complicadíssima. Por isso, propomos o Caminho de Jesus. Uma espiritualidade
fundada na Palavra e na conscientização dos apelos da fé sem modismos e
imediatismos de ocasião.
Mestre em Ciências da Religião - UNICAP/PE
[1] Uma linguagem mais usada hoje
após a Conferência de Aparecida em 2007.
[2] Modo utilizado na pesquisa atual
para designar o ‘Novo Testamento’.
[3] Documento final da Conferência de
Aparecida em 2007.
[4] Fazemos aqui o destaque para o
termo que envolve pessoas que praticam a
religião sem denotar necessariamente clérigos de congregações e outros
vínculos institucionais.