sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Sociedade da Véspera

Vivemos imersos numa sociedade complexa e permeada de ilusões. Nesse cenário de muita ambiguidade cresce uma certeza: tudo hoje se celebra na "véspera".

Esse é um tarço da cultura dita pós-moderna que está tão arraigado no inconsciente do indivíduo e da sociedade que nem sequer notamos ou nos damos conta das suas consequências.

No calendário civil brasileiro são várias as festas que se esgotam na véspera. O carnaval dá início a todas elas. Quando chega na terça-feira ninguém aguenta mais tanta folia. Na véspera de feriados e até dias santos haja comemoração. Festa da máscara, da fantasia, da primavera, do "muído", etc! No ritmo que as coisas se encaminham estamos perdendo o sabor da gratuidade e da alteridade.

As celebrações de ordem pessoal e familiar também não fogem a regra. Aniversário natalício, batizados e aniversário de casamento - quando alguém se lembra - é sempre celebrado na véspera. Por quê tanta pressa? Para onde se encaminha uma sociedade que privilegia o improviso? Só o tempo nos permitirá deduzir.

Enquanto isso, devemos encontrar alternativas diferentes. No próprio catolicismo celebramos as vésperas de José, esposo de Maria (março), Pedro e Paulo (junho), Assunção de Maria (agosto), Aparecida (outubro) e até do Natal do Senhor. Talvez aqui esteja um caminho diversificado para combater a cultura superficial, mórbida e consumista do mundo. Nas vésperas dos santos e santas a Palavra de Deus aponta para uma fonte inesgotável de felicidade: a prática do amor e da justiça. Jesus chama de bem-aventurado quem se arrisca a remar contra a corrente. A se expor frente as intempéries de uma cultura que prega a desilusão e a riqueza (Mt 5,1-12) E mais, ele enfatiza a primazia do Reino sobre a transitoriedade desse tempo (presente) e afirma que seus discípulos e discípulas devem ser diferentes: "Se a vossa justiça não superar a dos escribas e fariseus vocês não entrarão no Reino dos Céus" (Mt 5,20).

O advento chegou e logo mais as vésperas do Natal. Pense sobre isso e não permita que os presentes oriundos de relações dúbias e interesseiras, arrebate o lugar onde o verdadeiro presente nos dignificará como cristãos e até não cristãos: a manjedoura do nosso coração. Nele não há vésperas. Nele não há frustração alguma que impeça a realização vida da esperança (Rm 5,5) trazida pelo Messias para todos e todas, especialmente para os pastores, pobres, humildes, os manos e os sem voz e sem vez.

José Soares de Jesus

Um comentário:

  1. Tive a oportunidade de estar presente na missa que o senhor fez esta reflexão. E fiquei instigada com algo que o senhor falou, mas antes de chegar lá é bom esclarecer algumas coisas. O shopping é um local de lazer e de consumo, certamente somos tentados a frequentá-lo todos os dias se possível. Contudo,naquele local transitam todas as classes sociais. As ditas superiores e as conformadas chamadas de classe C,esta liberdade de transitar é ruim? não!
    O senhor disse que os cristãos deveriam ter vergonha de pisar os pés no tal estabelecimento, por causa do assassinato do homem.Porém,na minha opinião isto só confirmaria ou apoiaria uma discriminação embutida que existi no shopping. Deixá de frequentar o local, não trará a vida do homem e muito menos os ricos olharam de outra forma para os pobres. O shopping teria uma queda nas suas vendas, mais por quanto tempo? Dias,talvez.Logo o mesmo iria se elitizar como shopping riomar, e venderia ainda mais. Além disso, favorecia mais uma vez a classe "superior",mais um local só para eles.
    O senhor comentou ainda, de um protesto que alguns jovens estão organizando. Aí sim é uma solução ou uma das. Eu como cristã e estudante de movimentos sociais, vejo nos protestos uma das formas de mudar a dinâmica deste estabelecimento. Reivindicar, a legalização dos seguranças, exigindo que os mesmos tenham um tratamento físico e psicológico. Nos protestos, perdi apoio de lideranças e da população, com cartazes e outras formas de simbologia, que chamem a atenção da população e quem sabe da imprensa. Com isso teríamos, quem sabe, em vez de uma diminuição das vendas do shopping consumidores mais conscientizados e uma segurança menos discriminatória.
    Não devemos ficar em um casulo, impedido de frequentar estes locais que não somos aceitos de bom agrado. Se é público, temos de gozar sim do lazer que é proporcionado.

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