domingo, 26 de fevereiro de 2012

Os desertos de hoje

Todo domingo sentimos em nossas vidas e na vida das nossas comunidades um impulso renovador que brota da Palavra que Jesus nos presenteia através do evangelho. E, como estamos no primeiro domingo da quaresma, Marcos nos apresenta o trecho conhecido de Jesus que vai ao deserto.
A perícope é a seguinte: “Em seguida o Espírito levou Jesus para o deserto. E Jesus ficou no deserto durante quarenta dias e ai era tentado por satanás. Jesus vivia entre os animais selvagens e os anjos o serviam” (Mc 1, 12-13).


Marcos foi o primeiro a escrever a vida de Jesus entre os anos 60-70. Tempo de conflito – cabe lembrar a destruição do Templo de Jerusalém – e perseguição. Ele não “parece” disposto a narrar muita coisa. É sucinto. Poucos detalhes cercam sua narrativa e isso é bom. Porque o leitor tem que ler toda obra e descobrir os passos de Jesus. É quaresma, então se mova e descubra as tentações no corpo do evangelho. Veja que em Mt 4 ele dá detalhes. Marcos não. Jesus foi conduzido ao deserto, e só!


Não pense que acabou. Jesus no deserto lembra o caminho percorrido por Israel quando saiu do Egito, lugar de morte e dor. Jesus percorre no deserto o itinerário do sofrimento e abre a possibilidade do cristão lutar pela liberdade, pela justiça, pelo direito e chegar à conversão.
O deserto lembra aridez, falta de recursos naturais, “medo”, incerteza; mais também evoca a figura de Elias, a contemplação e a coragem de “disputar” com Deus a seguinte lógica: Senhor para onde quero ir? Ou, Senhor aonde quer me levar? É um lugar de “encontro”. A morte pode ser superada pela capacidade de resignar-se e aproximar-se de Deus com ternura e humildade.


Elias e Jeremias ou Isaías (40-55) – logo após o cativeiro babilônico – João Batista e Jesus. Os desertos deles foram terríveis. Os desertos de hoje são floridos e enganadores. Imagens dúbias de deserto aparecem nas redes sociais, nos programas de TV – pobre Big-Brother – nas cercanias ou dentro dos shoppings. Você acha que Jesus aprova a morte de um ser humano? Parece que foi na “França”: um homem entrou a quinze dias no shopping e saiu morto. Estranho. Fazer penitência e jejum com o sangue de inocentes. Essa será nossa quaresma? Protestar é o mínimo que podemos fazer em meio ao deserto urbano que só fala em consumo, culto ao corpo, corrupção, abuso de crianças e mulheres, etc.
Os desertos de hoje devem nos impelir a conversão. Resgatar a dignidade humana violada e nos tornar parceiros de Jesus. O deserto que ele apresenta é inovador e dele sai vida, liberdade e esperança.


José Soares de Jesus









5 comentários:

  1. Soares,

    Muito bom!! às vezes imagino que o que tu escreves que falas bem que poderia estar na boca ou nos dedos de Dom Hélder.
    Abraço,

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  2. Para ouvir Dom Hélder, clique abaixo:

    http://www.domtotal.com/tv/detalhes.php?mulId=29&mulArqId=75

    ou copie e cole na barra de endereços para abrir o site,

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  3. Me permita acrescentar a este deserto esta famigerada governabilidade que vem corroendo os governos e com isto prejudicando a população de forma miserável e avassaladora.

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  4. 1º Gostei da mudança...'em busca dos ETS'...legal!

    2º Acrescento também a esse deserto o desrespeito pelos moradores de rua e dos verdadeiros donos do nosso Brasil - os índios - que são queimados por jovens de classe média e... e... acontece o que mesmo?

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