segunda-feira, 8 de abril de 2013

A COMUNIDADE APOSTÓLICA E SEUS DESAFIOS

No contexto da alegria pascal celebramos no segundo domingo da páscoa um dos momentos mais alvissareiros da ‘comunidade’ dos seguidores (as) de Jesus. Com textos provocativos como o de Atos 5,12-16 e o de Ap 1,9ss, pudemos observar como são reais e contundentes os traços da verdadeira comunidade cristã.
Logo de início antes dos relatos bíblicos cabe uma pergunta: nossas comunidades ditas cristãs de hoje, possuem na verdade características comuns com a dos primeiros cristãos, ou são apenas, agrupamentos humanos? Vamos a alguns fatos!
Togo grupo que se reúne em torno de alguma coisa, ou acontecimento ou memória ou fato extraordinário, consegue resgatar com pujança a origem do que aconteceu no passado para impulsionar a realidade presente. Ou seja, é um grupo que tem motivação e objetivo claro. Nossas comunidades vivem ligadas umbilicalmente ao que celebram? Possuem norte e direcionamento ou vivem presas a regras e atabalhoadas na mesmice? Procuram resgatar a memória do ressuscitado?
Na leitura dos Atos 5, 12-16 a coragem de Pedro e a crença expressa dos fiéis tem uma conotação belíssima. Possui traços de liberdade e ousadia. Sinceramente, não vejo muito essas questões nas comunidades aonde passo. Lucas descreve que, quando Pedro passava algo de novo acontecia. Os fiéis levavam até doentes para ver se a sombra de Pedro tocava-os ao passar (At 5, 15). O que carregava consigo esse “homem simples”, esse – numa linguagem do sertão – tabareu da Galiléia? Algum talismã ou poder esotérico? Nada disso. E talvez aqui esteja presente a chave da questão. Mesmo antes da efusão do Espírito Santo, Pedro vem dominado – de dominus, Senhor – pelo Espírito do Senhor Ressuscitado. Pedro encabeça uma comunidade que se sente movida, atraída liberta e pronta para seguir um Deus vivo e não a imagem de uma figura inerte.
Pronto, dois traços já podem clarear o caminho da comunidade que se diz cristã. O primeiro é a Ousadia. Não confundir com petulância e falta de bom senso. Cristão (ã) de verdade não perde tempo com conversas dúbias e sem rumo. Não se preocupa em demasia com a vida dos outros. Não fofoca, não perturba a vida de quem descobre o caminho do ressuscitado. Não atrapalha a mística daqueles e daquelas que possuem espírito forte e orante (ver Ap 1, 10-12). Ousadia é o mesmo que destemor. Você vê e sente isso na sua comunidade?
O outro traço é a Liberdade que o Espírito provoca. Parece que há muita gente acovardada no atual contexto da vida cristã. E mais, em todos os níveis. Parecem mais preocupados com o espetáculo e as rendas do que com a continuidade da libertação que Jesus trouxe. Esses (as) são covardes. São traidores da missão do nazareno. Pouco afeitos a mudança e por isso, colocam todo tipo de barreira para que as coisas não deslanchem. A liberdade provoca entrega, alegria, satisfação generosa, abertura e diálogo com o diferente. Seja de uma religião diferente, de um grupo social, cultural, das minorias, etc. Quem é provocado pelo Espírito do Ressuscitado não idolatra o poder, mais o utiliza em função dos excluídos e dos desanimados. Nossas comunidades agem assim?
Por fim, creio que urge verificar se nossas reuniões e celebrações não estão formando agrupamentos humanos com interesses distintos daqueles que Jesus preconiza. Oxalá esteja no caminho certo. E como no evangelho de João 20,19-31 Ele, o Ressuscitado, aparece e deseja por três vezes a paz, é melhor exorcizar os três venenos ou “demônios” que impedem essa paz nas comunidades. São eles: a mentira, a divisão e a fofoca. Trabalhemos e vejamos a partir dessas referências se sua comunidade e as comunidades são de fato lugar – topos - de amadurecimento humano e cristão.

José Soares de Jesus
Assessor das CEBs em Aracaju-SE
Professor de História e Sociologia da Religião
Mestre em Ciências da Religião pela UNICAP-PE



Um comentário:

  1. Digo que temos comunidades que 'ralam' para que a presença de Cristo nunca seja esquecida e temos também pessoas que se agrupam com o intuito de somente serem vistas como pertencente a uma comunidade.

    ResponderExcluir