terça-feira, 10 de maio de 2011

A SOCIEDADE DO ESPETÁCULO

Na sociedade atual tudo se constrói a partir de imagens e espetáculos. As notícias são transmitidas no ato dos acontecimentos e na tela do computador ou na TV digital temos a impressão que o mundo está dentro de nossa casa. Só que na maioria das vezes não medimos as conseqüências do que vemos e nem refletimos sobre os fatos.
Tudo é notícia. Desde o esporte, a novela, o telejornal, o filme e até sobre a religião. Nada é mais pensado. Para que, vemos no ato as coisas! Essa impressão é enganosa e não cria uma cultura construtiva, crítica, cidadã e adequada. Na velocidade em que os acontecimentos se desenrolam estamos navegando no escuro.
Semana passada – mais precisamente no dia 2 de maio – a Rede Globo dedicou quase 90% do Jornal Nacional a epopéia americana que culminou na suposta morte de BIN LADEN no Paquistão. Deu destaque imenso, interagiu com repórteres dos quatro cantos do mundo, passando pela Europa, Israel, Ásia, Oriente Médio e América Latina. O presidente do Peru disse que foi milagre e tripudiou da morte do terrorista pensando que Deus se alegra com sinais de espetáculo. Penso que se enganou.
A maneira como o poder americano conduz a política internacional nada tem de divino. O poder militar exacerbado é prova de insegurança de uma cultura que se considera hegemônica fala de liberdade, mas não respeita os direitos humanos. No caso exposto de BIN LADEN – salvo os atentados contra o ocidente – o Jornal Nacional devia dá a mesma cobertura aos reclames do Paquistão que lamenta a ingerência americana no seu território. Quem está com a razão? Talvez nenhum deles. Divulgam protestos formais mais agem de maneira desumana visando interesses bélicos e comerciais.
No mundo do espetáculo a vida humana e do planeta vale pouco. As necessidades que vigoram são a do consumo de armas, da violência e do poder. Não são mediadas as conseqüências da mentira e do assassinato em massa de pessoas indefesas em nome de uma ideologia capitalista desenfreada e predadora.
O espetáculo está tomando conta da nossa liberdade de decidir. Ele é perigoso e conduzido assim é nefasto. Não respeita nem o poder da consciência onde Deus se revela ao ser humano.
“De fato o homem tem uma lei escrita por Deus em seu coração. Obedecer a ela é a própria dignidade do homem, que será julgado de acordo com está lei. A consciência é o núcleo secretíssimo e o sacrário do homem onde ele está sozinho com Deus e onde ressoa sua voz” (GS 16).
Estamos aplaudindo tanto a morte de BIN LADEN como a morte das vítimas do 11 de setembro. Não fazemos muita distinção, não dá tempo, queremos notícias, fama, projeção, espetáculo, beleza, festa e estamos trocando nossa liberdade cristã que prega o direito à vida pelo simples prazer de consuir.
A saga pós-moderna da indiferença frente aos valores humanos está nos anestesiando. Pode ser uma notícia boa ou má. Não importa. Vale do mesmo jeito. Tudo é muito rápido e nossas relações também se tornam pífias e superficiais. A norma do descartável está presente em nossas decisões, se é que tomamos alguma (...).
Nossa proposta é olhar com criticidade e ternura a vida e os acontecimentos não julgando os fatos e o ser humano apenas pela notícia. A vida esconde muito mais beleza do que pensamos. Os motivos do terrorismo são nefastos mais nossa maledicência em consumir é proporcional a ele. Não somos seres descartáveis. Não é essa a proposta cristã. A vida vale muito mais em sua plenitude.
Precisamos descobrir o valor da ternura em nossas relações pessoais e comunitárias. A sociedade atual está carente de afeto. O espetáculo não pode ditar as regras. Urge redescobrir no diálogo incansável e na tolerância amorosa os direitos comuns que temos a vontade imensa de paz que buscamos e o ímpeto divino de felicidade que nos cerca. Somos herdeiros da pregação de Jesus. “Felizes os mansos porque herdarão a terra. Felizes os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus” (Mateus 5, 4.9). A felicidade, a alegria, o desejo incessante do aconchego deve nortear nossa vida contra toda forma de espetáculo.

REFERÊNCIAS
Bíblia de Jerusalém, Paulinas, 1985.
Compêndio do Vaticano II, Vozes, Petropolis, RJ: 1983.

José Soares de Jesus
Professor de História da Igreja Antiga – Contemporânea
Mestrando em Ciência das Religiões – UNICAP



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