sexta-feira, 2 de março de 2012

Dominar os impulsos do mal

O tempo quaresmal aguça nossa inteligência e o nosso coração para colocar em ordem nossa vida cristã e os esquemas que impedem o Reino de Deus se tornar presente em nosso meio (Mc 1,15a). Parece que nesse período somos mais susceptíveis ao arrependimento e a prática da justiça.
Então, aproveitemos o tempo de graça ((2 Cor 6,1-2) para detectar alguns transtornos que afligem "nossos" cristãos e suas vidas em comunidade. Para isso, vamos usar uma sigla: TOCp (Transtorno obsessivo compulsivo pelo poder). Iniciemos por aquilo que nos faz postar essa questão. 
As paróquias - ou comunidade de comunidades, como expressa o doc. de Santo Domingo - estão passando por um momento histórico delicado. A procura imediata pelos sacramentos não representa mais a totalidade do eixo cristão. Há muito tempo os documentos pontifícios e os da Conferência da América Latina vem batendo na tecla sobre a missionariedade. O impulso missionário é o caminho "sine qua non" para que a Igreja continue viva e atuante. Não é mais dentro e nem nas cercanias do altar e por trás de vestes pomposas que iremos resgatar o núcleo da vida quaresmal. O momento é de "preparar-se" com competência, oração e destemor para enfrentar os desafios que a cultura moderna e os avanços tecnológicos nos apresenta.
O fato é que nossas estruturas e mentalidades estão paralisadas. Há muita disputa por cargos e posições na Igreja, o que infelizmente atinge a leigos, clero, seminaristas, consagrados e consagradas.
Permita-nos refrescar a memória: você que atua em comunidade tem visto pessoas do povo assumindo tarefas eclesiais? Existem relatos de profunda conversão em sua comunidade? Os mais pobres são assistidos e evangelizados? As coordenações das pastorais e dos famosos movimentos muda com frequência? O Conselho Paroquial - onde existe - é o termômetro da organização missionária ou ambiente de discussão e troca de insultos? Se das cinco questões levantadas três forem não, está na hora de "fechar para balanço". E o que se impõe é seguinte: tem mais cacique do que índio.
As pessoas tem se afastado em demasia porque um dos fatores é a disputa interna pelo poder que desequilibra a vida eclesial e impede o florescimento de uma mística profunda e arraigada no evangelho. Existem lugares onde os transtornos citados acima como base do artigo estão carcomendo a ação do Espírito. Veja Ez 37, 1-14. Mergulhe no texto, atualize-o e note a pertinência do profeta. Examine os desequilíbrios atuais que impedem a conversão das pessoas e o mesmorecimento das comunidades. E para isso, usaremos o número sete como símbolo das anomalias eclesias que nos afligem.

Primeiro: Transtorno Obsessivo Compulsivo pelo poder "de julgar"
Segundo: Transtorno Obsessivo Compulsivo pelo poder "de condenar"
Terceiro: Transtorno Obsessivo Compulsivo pelo poder "de caluniar"
Quarto: Transtorno Obsessivo Compulsivo pelo poder de "murmurar"
Quinto: Transtorno Obsessivo Compulsivo pelo poder "de esconder"
Sexto: Transtorno Obsessivo Compulsivo pelo poder "de coordenar"
Sétimo: Transtorno Obsessivo Compulsivo pelo poder "de mentir"

Todos eles podem ser assumidos/resumidos pelos dois últimos. A uma incapacidade espiritual das pessoas de conviver com o diferente nas paróquias e de aceitar mudança. A maioria dos cristãos que coordenam adoram o poder e fazem até pior do que os que detem os poderes temporais para não serem substituídos. Por acaso isso é missão? Essa fórmula de insensatez está nos evangelhos? Claro que não. Leia Lc 9, 51-56 (veja como Jesus repele a prepotência). Estamos afastando as pessoas do verdadeiro encontro com o Cristo Ressuscitado; e apresentando-lhes o rosto ideológico da maldade e da injustiça; rosto do autoritarismo e da maquinação "diabólica" que foi capaz de tornar amigos os dois ionimigos, Anás e Caifás, só para torturar e matar Jesus. Entre nós também não existem esses males?
Ainda há tempo na quaresma para mudar.

Por isso, vamos mergulhar no que de bom nos põe de pé. Começando pelas práticas da esmola, do jejum e da oração. Façamos das nossa pastorais lugares de encontro e acolhida. Recordamos aqui o livro de Jean Vanier, Comunidade lugar de perdão e de festa. Com os cantos e a ternura encher de carinho nossas igrejas e de afeto o coração do povo. Ressaltar a misericórdia como fonte de maturação. A lei pela lei....mata, empobrece, calunia, faz sofrer, envelhece e torna o pecador amargo e sórdido. ("Se a vossa justiça não superar...." Mt 5,20).  Misericórdia, misericórdia, beleza, amor, abrir as portas do coração para à acolhida. Nossas comunidades tem muito encanto e pessoas carentes e desejosas de ouvir  a palavra, crer na amizade, adorar o Jesus Vivo, sentir o pulsar do coração dos que sofrem. A hora é de construir e re-construir o Éden da bondade e da atração inédita pela companhia (Eva não é culpada pela maça passada; a serpente não pode ficar eternamente manchada pela maça que deu). Nada disso. Na quaresma, não vamos oferecer ao diabo a inicativa pela vida e a capacidade "eterna" de sermos livres para amar. Ainda há tempo de purificar espíritos e atitudes. Coordenar mas sem impor e sem nos colocar como uma empresa; nela o salário pode ser a entrega do companheiro para aumentar meu soldo; entre nós o único motivo da disputa deve ser o de fazer o bem. Abaixo os "transtornos" e as máscaras provocadas por uma "falsa religião" que acorrenta e oprime. Destaquemos o bem e a justiça, eles sim, acompanham a missão e a prestação de contas dos discípulos-missionários de Jesus.

              José Soares de Jesus

2 comentários:

  1. O texto de Ezequiel é muito forte. Deus diz que só Ele dá a vida e sua estrutura. Nas vias- sacras fico visualizando as antigas comunidades, como eles eram fiéis ao Cristo e procuravam escutar a Deus nos irmãos e nas coisas mais simples, diferente de muito de nós. Acredito que seus corações queimavam quando pensavam nas dores do Rei dos Judeus. Claro que em qualquer comunidade e em qualquer tempo há pessoas que procuram distorcer o sentido da vida de Jesus, mas eles eram fortes e desejosos para sentirem o queimor no espírito. No CD "Em nome do primeiro amor" Carlos Mesters, em sua fala, nos diz que "Na Celebração da Palavra o povo encontravam luz e força para poder aguentar a dureza da perseguição". Cantavam para ter forças porque "cantando, bebiam da fonte, animavam a fé e irrigavam a esperança". E com o canto lutavam com a alma, "luta sem festa derrota na certa, festa sem luta vitória falsa". Precisamos sentir novamente o pulsar do coração das antigas comunidades para lutar por justiça e pela dignidade dos que são injustiçados e maltratados por uma sociedade, nós, que procura a cada dia não ser digna do sangue de Cristo.

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  2. Cantavam para ter forças porque "cantando, bebiam da fonte, animavam a fé e irrigavam a esperança". E com o canto lutavam com a alma, "luta sem festa derrota na certa, festa sem luta vitória falsa" Verdade. Fecho contigo. Quando nossas comunidades superarem esse mal do poder, pelo poder, alicerçado na mentira e na exclusão sentirão a força desse canto...

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