domingo, 4 de março de 2012

SUBIR A MONTANHA

SUBIR A MONTANHA

Domingo é dia de descanso e festa. Dia de conviver com os amigos (as) para recobrar as forças do corpo. Mas também devemos “ouvir” à Palavra e deixar-nos conduzir por ela obedecendo ao Deus da Vida.

Nesse segundo domingo quaresmal (04/03) o apelo das leituras pela obediência põe em contraposição os abusos de uma sociedade hedonista e consumista que prega e impõe o “ter para poder” rasgando a liberdade e o caminho da felicidade que está no respeito ao outro e a própria vida.

Vamos ao texto da leitura de Gn 22, 1-19. Muitos chamam essa passagem de o sacrifício de Isaac. Gostaria de lembrar que não. O sacrifício, pelo contrário é de Abrãao. Iahweh pede-lhe o filho único e ele dá. A dor e a angústia são de Abrãao. Ele é o protagonista de uma decisão questionável mais profunda e inevitável: obedecer ao Senhor. Na obediência de Abrãao a humanidade resgata o valor da escuta, da primazia do amor e da imolação que depois os padres da Igreja verão nela, o próprio sacrifício de Jesus.

Porém, o que significa de fato “obedecer”? Parece que essa virtude caiu em desuso. O latim nos ajuda. “Ob-audire”. Não é simplesmente ouvir e disfarçar um aprendizado ou um conselho, ou até mesmo uma noção. Para nós cristãos, significa “escutar de dentro a partir do coração”. Não se trata de uma tarefa exterior e sim interior, pautada na liberdade e na disciplina, evitando a subserviência que não amadurece e cria traumas terríveis. Escutar e bendizer o Deus do Amor que nos fala pela história, pela alegria, pela dor e, sobretudo pelo seu “Filho amado” (Mc 9, 7b).  

O Novo catecismo nos ajuda: “Obedecer (“ob-audire) na fé significa submeter-se livremente à palavra ouvida, visto que a sua verdade é garantida por Deus, a própria Verdade. Desta obediência, Abrãao é o modelo que a Sagrada Escritura nos propõe e a Virgem Maria, sua mais perfeita realização” (CIC, 144).

Agora temos mais clareza da relação entre Obediência-Palavra-Fé. Elas não se excluem. Por isso, devemos subir a montanha. E Marcos nos conduz hoje a uma experiência incomensurável de “escuta”. Ele – domingo escrevi que é muito conciso – nos apresenta Jesus subindo na montanha e com três companheiros. Parece que embaixo não dá para Jesus rezar. Tem muito barulho.....”os carros de som abusam demais e tocam muita tolice”, então, Jesus sobe. Moisés subiu no Sinai e de lá trouxe a Lei. Jesus sobe e de lá traz a paz, a sobriedade, a ternura, o respeito ao diferente e o mais espetacular, traz a certeza da vida na RESSURREIÇÃO. (Mc 9,9). Que êxtase e que maravilha. Subir a montanha para ser envolvido pelo Ressuscitado.

No aconchego da montanha com a brisa leve e ao lado de Jesus descer é péssimo, certo? Errado. Pedro vacilou e pediu para ficar lá (Mc 9, 5-6). Jesus em outras palavras disse que não dá é hora do compromisso, temos que descer. Tudo isso por que aqui embaixo a humanidade esqueceu-se do valor da “escuta”. E por isso encerraremos com um fato:

Se escutasse a lei do amor e a palavra dos pais o garoto da praia/Jet-sky não teria, pelo que parece, ainda não podemos afirmar taxativamente, matado a menina em Bertioga/SP. Se tivesse escutado a voz....de quem? Se tivesse sido educado a obedecer....mais obedecer a quem? A menina não teria morrido. E agora, é possível trazê-la de volta? Cremos que sim! Não deixando que o fato caia no esquecimento. Revendo atitudes. Colocando limites numa geração que se sente livre e sem medidas; e olhe, não por culpa dela, apenas. Sendo sensíveis a dor a ao sofrimento do outro, apostando numa sociedade mais ouvinte do que falante. Vamos rever nossas posições religiosas, de cunho pessoal e até familiares. Vamos subir a montanha.

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