quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

O Caminho e os Desafios de Jesus




O caminho traçado por Jesus conquista e interpela o coração e a vida dos discípulos-missionários[1] (Mc 1,16-17, 3º Dom Comum). São fortes os apelos que Ele faz e denota certo “incômodo” não muito citado em nossos cultos midiáticos de hoje. A proclamação da Palavra muitas vezes dá-se de modo distante e que pouco incomoda. Denota que não é conosco. O convite é para os outros e, eles que se incomodem. Nossa perspectiva – digo clero e leigos de vanguarda – é de quem olha ao fundo e não se deixa questionar. Parece que nos esquecemos da “morbidez religiosa” que na atualidade marca a vida social como um todo bem como o fato de que as instituições passam por uma crise voraz.
Quando abordamos no artigo passado a espiritualidade do caminho tencionamos abrir diálogo com Marcos que nos acompanhará todo esse ano litúrgico. E, mais, deixar de lado certas hermenêuticas rígidas que pouco ajuda na desconstrução e reconstrução da vida cristã. Parece-nos que há um vigente toque midiático na apresentação dos evangelhos como se Jesus fosse de “plástico”. Marcos, ao contrário, é muito contundente quando parece abreviar seu texto – só com dezesseis capítulos. Não lhe apraz um Jesus “folgado” que ele parece ter escrito por volta dos anos 67-70, e abre assim o segundo testamento[2]. Esse caráter de força dá maior visibilidade ao projeto de Jesus e deixa perplexos os interessados pela espiritualidade do caminho. Não premia superficialidade e ignora “dogmatismos” inconsequentes e desumanizantes (Mc 1,16.18). Chama e desinstala. Nada de perder tempo com assuntos de pouca relevância. Ele nos coloca diante dos desafios propostos por Jesus: “Depois que João Batista foi preso” (Mc 1,14). Não existe privilégio – vida light – para Marcos.
Na verdade, observamos que Jesus propõe um caminho diferente e inusitado que incomoda duas vertentes atuais: o estado de vida “light” e a exposição midiática do evangelho entre católicos e evangélicos. Esse é um traço que passaremos a comentar agora. Porque vejamos, se a referência deve ser o DAp[3] com suas exigências, não cabe a moleza espiritual e a troca de valores que muitos religiosos[4] e leigos fazem hoje. Esse modo de englobar na missão a todos e a todas, denota de nossa parte a consciência de que como agentes de pastoral, todos – clero, consagrados e consagradas, batizados em geral – prestamos um desserviço ao Reino quando trocamos de modo light o evangelho pelas facilidades atuais da pregação. Essa história de que Jesus é nada, nada, nada, é puro relativismo – ao nosso modo de ver. Essa leveza desorientada casa com a exposição de mercado como aconteceu no final de semana – no dia 24 e 25/1 shows gospel e católico com requinte de alegria e música – com grupos religiosos dando a impressão de opor-se e/ou apresentar alternativa ao Fest-Verão. Há princípio nada contra mais não insere reflexão e compromisso no seguimento Dele, o Jesus do caminho. Sua perspectiva sempre foi outra bem mais contundente e sem troca de “igreja” ou fundamentalismos.
O caminho de Jesus deve colocar – e sei que há muitos preocupados – na agenda de leigos e presbíteros as questões mais desafiantes do momento. Há nosso ver está difícil evangelizar com métodos do passado. O destaque na missão deve ser dado continuamente aos mais empobrecidos. E mais, deve-se acentuar a consciência de que grupos de professores (as), empresários, médicos (as), políticos – esses nem se fala – e até mesmo os jovens, além de outros, estão distantes de nossas igrejas e parece que atingi-los é uma tarefa complicadíssima. Por isso, propomos o Caminho de Jesus. Uma espiritualidade fundada na Palavra e na conscientização dos apelos da fé sem modismos e imediatismos de ocasião.

                                                              José Soares de Jesus
                                                  Mestre em Ciências da Religião - UNICAP/PE 


[1] Uma linguagem mais usada hoje após a Conferência de Aparecida em 2007.
[2] Modo utilizado na pesquisa atual para designar o ‘Novo Testamento’.
[3] Documento final da Conferência de Aparecida em 2007.
[4] Fazemos aqui o destaque para o termo que envolve pessoas que praticam a religião sem denotar necessariamente clérigos de congregações e outros vínculos institucionais.

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