terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

A Quaresma e a Campanha da Fraternidade -2015



O contexto da Aliança entre Deus e a humanidade se prolonga com a atitude de Noé – leitura do 1º Dom ‘B’, Gn 9, 8-15. “Eu estabelecerei minha aliança contigo e com teus descendentes” (v. 8). As tribos e grupos humanos na época podem ser chamados de sociedade? Talvez. Mas é bom verificar que no tempo em que foi escrito o texto havia sim uma sociedade estabelecida. A escravidão e o exílio babilônico foi terrível e duradouro. Bom ver como Jeremias descreve a situação e se cansou de avisar e nada. Leia Jeremias e constatará.
Manter a Aliança sempre foi um desafio no Primeiro Testamento. Creio que o espirito quaresmal entra justamente aqui. Manter nos 40 dias que seguem a penitência é ser fiel a Aliança com Iahweh. Fazer jejum (Is 58), dar esmolas, manter a vida orante e de mística constante pode sustentar nossa parte na Aliança. Porém, é bom cuidar-se. Certas práticas podem se esvaziar se o cristão e a cristã o fizer de modo externo e sem repercussão na vida interior e social.
NOÉ E A QUARESMA
Deixando de lado o último filme sobre ele – muita ficção – devemos olhar a história bíblica como um símbolo. Obediência (quaresma), fidelidade (quaresma), preservação da natureza, combate ao mau uso da água, formação histórica de um tipo de sociedade onde possa reinar o bem – não o pecado – para todos e todas; reinício de uma História com base na Igualdade, na Justiça e no temor a Iahweh. Essa é uma tarefa árdua e complexa. Talvez Jesus no “deserto” possa nos ajudar. Noé é figura dinâmica de quem ouve (quaresma), e consegue arrastar para perto de si todos e todas que creem na Palavra. Noé não faz barulhos; quem o faz é o dilúvio. Isso significa que: fora da Arca é confusão. Dentro é luta pela arrumação e um silêncio enorme para vigiar o momento certo da saída. Numa sociedade que – muitas vezes prima pelo “som do pancadão”  – investe no tumulto violento seria bom repensar nas consequências de tantos desvios (sem moralismo, só provocando nossa reflexão).
JESUS E O DESERTO
Quem disse que deserto é só aridez? Sociedade que exclui não entra no projeto de Jesus (CF – 2015). “Jesus realizou sua missão em meio aos problemas e injustiças da sociedade do seu tempo...Ele colocou em primeiro lugar os pobres, os fragilizados, os excluídos” (Texto Base, 127). Não gostava de andar muito pelo Templo. Corria de agitação e tumultos. “Depois que João Batista foi preso, Jesus se dirigiu para a Galiléia...” (Mc 1,14). Sintomático aqui: João representa à vida, a liberdade, a dignidade dos filhos e filhas de Deus. Pronto, “o diabo” está solto. João foi acorrentado e Jesus entra em cena. A sociedade precisa de mudança rápida. Sociedade que mata e poderes que oprimem – inclusive os religiosos do Templo e muitos que negociam a fé do povo hoje – e querem ver o povo sem esperança. Pronto o deserto é para fortalecer a quaresma e para nos dizer que “Eu vim para servir” (Mc 10,45). Viver a quaresma é abrir-se para a legitimidade da CF-2015 (e, pelo contrário, a CF não substitui a quaresma).


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