sábado, 24 de março de 2012

DEUS AGE NA HISTÓRIA DO SEU POVO

O 4º domingo da quaresma nos presenteia com uma bela certeza: “Deus amou tanto o mundo que lhe deu seu Filho único” (Jo 3,16). Trata-se de um alento maravilhoso descortinar essa máxima do evangelho joanino, escrito no final do primeiro século. O texto que continua a passagem do encontro de Jesus com Nicodemos balança nossas estruturas que só falam em condenar, expor, julgar, excluir e afastar.

Nossa condição humana não pode se afastar desse encontro com a palavra e a palavra nos dá condição de ir ao encontro de nossos desejos e motivos mais abscônditos, pois ela – a Palavra – nos revela quem somos. A proposta não é de buscar um Deus escondido nas amarras da perseguição e sim procurar minunciosamente na história de seu povo como Ele age libertando e salvando (2 Cr 36, 22-23).

Algumas questões nos interpelam: numa sociedade marcada por tanta violência, como podemos enxergar à ação divina? É possível falar em Deus e construir uma nova história com tragédias oriundas do preconceito e até da opressão religiosa? Como explicar a atitude do sargento americano que matou 16 pessoas (crianças) no Afeganistão? Certamente não queremos nesse artigo apresentar soluções imediatistas e sim esboçar um caminho de reflexão.

“Nabucodonosor deportou para Babilônia todos os que tinham escapado à espada, e eles se tornaram seus escravos, dele e de seus filhos, até o advento do domínio persa” (2 Cr 36,20). Esse fato ocorreu por volta de 587 a.C. Em pleno séc. VI depois de Jeremias ter alertado tanto o povo experimentou a desgraça. De novo a escravidão e a opressão. O profeta avisou tanto, não adiantou. Ora, Ciro fez renascer a esperança e por volta de 538 a. C., derrotou Nabucodonosor e libertou Israel. Ciro era Persa e não Judeu. Não é a violência e a impunidade que dão a última palavra. Mas sim Iahweh. Ele age na história, quebra paradigmas incestuosos e violentos; Ele tocou o coração de Ciro. É Iahweh quem dá a sentença final. Gostoso ouvir e crer nessa “profissão de fé”. O Senhor caminha com seu povo. 

As tragédias podem ter às vezes relação com a questão religiosa. Porém depende de como a interpretamos. A religião não pode ser e não é o fim em si mesma; ela abre possibilidades. Jesus foi capaz de construir um projeto novo a partir de uma matriz religiosa sem explorar, sem matar, sem condenar e sem oprimir. “Como Moisés levantou a serpente no deserto, assim deve ser levantado o Filho do Homem, para que todo homem que nele crer tenha a vida eterna (Jo 3, 14-15).

E ainda, esses acontecimentos que envolvem guerras e interesses espúrios não devem influenciar o caminho da compaixão pregado por Jesus. Afegãos ou Iraquianos; Brasileiros ou Venezuelanos ou qualquer outro povo, com sua arte e beleza, dores e júbilo, com sua religião e seus traços culturais não podem conviver com tanta opressão. É injusto demais, uma dor insuportável. Para nós cristãos ou muçulmanos o amor de Deus não se impõe através de um tanque bélico mas sim pela solidariedade. Se fosse nos E.U.A., como eles reagiriam? Será que deixaria o algoz sem julgamento? Lembremo-nos do acidente entre o Legacy e o avião da Gol. Teve algum americano julgado? É condenar o justo com base na iniqüidade é o mesmo que torturar Jesus numa fila do posto de Saúde; oi ainda numa sala de Igreja pregando o ódio e a discriminação.

Que o domingo da “luz”, da glória e da vida eterna brilhe na nossa vontade de juntar, agregar, unir e reconciliar. Esse é o rosto de Jesus, o Filho do Pai!

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